sexta-feira, 22 de abril de 2011

POESIA DAS DISCIPLINAS



POESIA MATEMÁTICA

Às folhas tantas
Do livro matemático
Um Quociente apaixonou-se
Um dia.
Doidamente
Por uma Incógnita.
Olhou-a com seu olhar numerável
E viu-a, do Ápice à Base,
Uma Figura Ímpar;
Olhos rombóides, boca trapezóide,
Corpo octogonal, seios esferóides.
Fez da sua
Uma vida
Paralela à dela
Até que se encontraram
No Infinito.
«Quem és tu?, indagou ele
Com ânsia radical.
«Sou a soma do quadrado dos catetos.
Mas pode me chamar de Hipotenusa.»
E de falarem descobriram que eram
- O que, em aritmética, corresponde
A almas irmãs -
Primos-entre-si.
E assim se amaram
Ao quadrado da velocidade da luz
Numa sexta potenciação
Traçando
Ao sabor do momento
E da paixão
Retas, curvas, círculos e linhas senoidais.
Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euc1ideanas
E os exegetas do Universo Finito.
Romperam convenções newtonianas e pitagóricas.
E, enfim, resolveram se casar
Constituir um lar.
Mais que um lar,
Uma Perpendicular.
Convidaram para padrinhos
O Poliedro e a Bissetriz.
E fizeram planos, equações e diagramas para o futuro
Sonhando com uma felicidade
Integral
E diferencial.
E se casaram e tiveram uma secante e três cones
Muito engraçadinhos.
E foram felizes
Até aquele dia
Em que tudo, afinal,
Vira monotonia.
Foi então que surgiu
O Máximo Divisor Comum
Frequentador de Círculos Concêntricos.
Viciosos.
Ofereceu-lhe, a ela,
Uma Grandeza Absoluta,
E reduziu-a a um Denominador Comum.
Ele, Quociente, percebeu
Que com ela não formava mais Um Todo,
Uma Unidade. Era o Triângulo,
Tanto chamado amoroso.
Desse problema ela era a fração
Mais ordinária.
Mas foi então que Einstein descobriu a Relatividade
E tudo que era espúrio passou a ser
Moralidade
Como, aliás, em qualquer
Sociedade.

Millôr Fernandes, Trinta Anos de Mim Mesmo




Tendo o texto de Millôr, como modelo, criar poesias, com outras disciplinas.




A GRANDE FESTA DA FAMÍLIA QUÍMICA

Certa vez a família Química
Decidiu dar uma festa e queria
Que ela fosse a melhor do bairro.

Começaram então a fazer os
Convites, começando pelo
Sistema Nervoso, que como todos
Sabiam, era muito “esquentadinho”.

E logo depois chamaram Luz
Que iria se incumbir da
Iluminação.

Chamaram também o senhor
Réptil e a senhora Anfíbio,
Que levaram os sobrinhos
Mamíferos e Aves.

Também chamaram os mais
Badalados da cidade a senhoria
Onda e o seu irmão Calor.

Convidaram a dona
Fusão Nuclear e sua
Filha Matéria, que levou
Seu amigo Movimento.

Os convites estavam quase todos
Entregues, quando o senhor Átomo
Lembrou-se que faltavam alguns convidados.

Ele chamou a Biosfera
Que levou sua irmã Ecologia
E seus primos Animais
Que fizeram uma algazarra.

Dona Planta marcou presença
Juntamente com os Peixes, a Física e as Aves
Que levaram um grande presente para o senhor Átomo.

A casa estava quase arrumada
Para a festa, quando o Ácido,
O filho mais novo de Átomo,
Lembrou que não havia convidado um DJ.

Ligaram rapidamente para o DJ
Mais famoso do estado; o DJ,
Corrente Elétrica, que animou a festa.

A festa começou cedo
E logo estava “bombando”
Ma logo a alegria
Acabou...

Quando Magnetismo derrubou
Suco na roupa de Célula que,
Contou ao Namorado, Efeito Estufa.

E ...





UM FINAL TERRÍVEL

Em um dia qualquer
Um Verbo se apaixonou
Por uma linda Sílaba;
E formaram uma Oração.
Tiveram vários filhos.

Uma     Dissílaba e uma Trissílaba.
Como em toda história
Sempre tem um vilão,
Que era o terrível Agente da Passiva.

Com a Oração
O Agente da Passiva
Queria acabar.
Para isso um plano
Ele ia bolar.

O Verbo e a Sílaba a praça
Foram namorar.
O Agente da Passiva apareceu
E a desgraça, aconteceu.

O Agente da passiva cruelmente os matou.
O Agente foi julgado, morto e sepultado.
Pelo senhor Gramatical
Que escolheu esse
Terrível Final.



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